Hoje é um dia de lembrar mulheres que dedicam sua vida para gerar mais vida. Uma dessas mulheres são nossas mães. Em nome de todas mães que caminha com a Dandara no Cerrado e as que caminharam o nosso abraço e o desejo de muita luz e esperança diante de tantas dores e luto por causa da Pandemia da COVID 19 em nossas famílias, amigos e no trabalho. Aqui deixamos registrado algumas de nossas lindas experiências na caminhada.
Vozes-Mulheres
Conceição Evaristo
A
voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A
voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A
voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A
minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A
voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A
voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.
(Poemas de
recordação e outros movimentos, p. 10-11).