A Campana vai trazer 01 a 25 de julho de 2019, a memória histórica escrita por várias mãos de 25 mulheres que se destacaram nas questões raciais e na luta pela igualdade de direitos. A cada dia o Núcleo de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil irá soltar um Post com uma dessas 25 mulheres mais votadas no Núcleo. Pois somos muitas espalhadas na América Latina. Aqui estão algumas referências, mas você pode buscar mais a partir do nome destas companheiras.
MEMÓRIA
Intelectual e
feminista: Lélia Gonzalez, a mulher que revolucionou o movimento negro
"Foi uma grande
revolucionária e evidenciou a posição estratégica das mulheres negras na
sociedade brasileira"
Letícia Fialho
Brasil de Fato | São Paulo
,
1 de
Fevereiro de 2018 às 19:12
Lélia deu origem ao conceito
de Amefricanidade, enfocando a questão do negro da diáspora / Reprodução
Independente, revolucionária e feminista negra. Antropóloga,
filósofa e intelectual, Lélia d’Almeida Gonzalez, se estivesse viva,
completaria 83 anos nesta quinta-feira (1º).
Nascida em Belo Horizonte (MG), Gonzalez colocou sua
intelectualidade a serviço da luta das mulheres no Brasil. De origem pobre,
ainda jovem, trabalhou como babá. Se graduou em História e Filosofia, passando
a lecionar na rede pública de ensino e, posteriormente, já na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), lecionou Antropologia e
Cultura Popular Brasileira, chegando a ser diretora do departamento de
Sociologia e Política.
"Ela foi uma das grandes revolucionárias desse país. Sua
crítica evidenciou que as mulheres negras tinham uma posição estratégica, tanto
no movimento negro, quanto no feminista" diz a arquiteta e urbanista Joice
Berth, integrante do Coletivo Imprensa Feminista.
Por meio da psicanálise, do Candomblé e do contato com a cultura
brasileira, Lélia assumiu sua condição de mulher negra. Em sua militância,
trouxe reflexões sobre a realidade das mulheres, principalmente negras e
indígenas.
"Ela despertou para a questão do espaço físico e urbano, em
Lugar de Negro, ela critica o problema racial que está impregnado na superfície
da cidade e na formação da periferia" ressalta Berth.
A autora foi além de seu tempo e conseguiu apontar o racismo e o
sexismo existentes na sociedade brasileira, como comenta a jornalista,
integrante da Marcha das Mulheres Negras Juliana Gonçalves: “É uma figura de
importância ímpar para toda a sociedade, inclusive para as mulheres brancas.
Foi uma das primeiras mulheres negras que conseguiu ter voz e vez em seminários
e encontros internacionais de mulheres aqui na América Latina”.
Lélia participou do Instituto de Pesquisa das culturas negras
(IPCN-RJ), do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Nzinga Coletivo de Mulheres
Negras. Sua produção intelectual também é vasta. É autora de obras como Festas
populares no Brasil, premiado na feira de Frankfurt, e da já mencionada Lugar
de negro, feita em parceria com Carlos Hasenbalg. “O nível de elaboração da
Lélia era muito refinado, ao mesmo tempo em que era fácil compreender o que ela
estava falando”, observa Gonçalves.
Com base em seus estudos, deu origem ao conceito de
Amefricanidade, enfocando a questão do negro da diáspora. “Ela bebeu muito dos
EUA, mas nunca perdeu o vínculo do que é ser mulher negra, brasileira, da
América Latina”, completa Gonçalves.
Para além da academia, Lélia também teve importante atuação
política. Nos anos 1980, foi indicada para o Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher (CNDM) e, em duas ocasiões — em 1982 e 1986 — foi candidata a deputada
federal, conquistando a suplência em ambas as oportunidades.
Faleceu aos 59 anos, no Rio de Janeiro, em 10 de Julho de 1994,
vítima de problemas cardiorrespiratórios. Lélia Gonzalez é considerada um dos
grandes nomes do movimento negro contemporâneo.
Edição: Vanessa Martina
Silva
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