quinta-feira, 3 de março de 2016

Mesa de Diálogos do Encontro de Culturas Negras

Noticias do Site do IFG Goiano

 Diálogos apontam caminhos para uma educação antirracista

Sex, 27/11/2015



Construir no Brasil uma educação antirracista não é nem pode ser uma tarefa para alguns professores negros; tem de ser uma responsabilidade de toda escola. Esta foi uma das conclusões da mesa de diálogos Educação e antirracismo no horizonte da Lei nº 10.639/2003, realizada na manhã de hoje, 27, dentro da programação do 2º Encontro de Culturas Negras do Instituto Federal de Goiás (IFG).


Participaram da mesa de diálogos os professores Euzébio Carvalho e Edson Arantes, da Universidade Estadual de Goiás, Luís Claúdio de Oliveira, da UniRio, e Roseane Ramos, do Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Goiás (Sintego). Eles foram unânimes em afirmar o papel da educação no combate ao racismo existente no Brasil e em elogiar o Encontro de Culturas Negras promovido pelo IFG.
Roseane Ramos enfatizou que é preciso incluir o combate ao racismo nos projetos pedagógicos das escolas e também modificar os currículos, porque eles são sinônimos de poder. Segundo ela, esse tema tem de ser tratado todos os dias nas escolas – e não apenas no 13 de maio e no 20 de novembro –, porque o racismo não escolhe dia para acontecer. “Na educação, quem não está combatendo o racismo, não está cumprindo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação)”, afirmou.
 O professor Luís Cláudio de Oliveira disse que educação e antirracismo têm de andar de braços dados. Segundo ele, qualquer política educacional não pode prescindir dessa reflexão e de ações no espaço educacional. “Nossa utopia é que os currículos escolares sofram as modificações necessárias para que as escolas sejam um espaço verdadeiramente democrático”, confessou.
Antes dele, o professor Euzébio Carvalho tratou da necessidade de se construir um sentimento de pertencimento racial e de se valorizar a imagem do negro no Brasil. Já o professor Edson Arantes fez uma ligação entre combate ao racismo e reconhecimento das religiões de matrizes africanas. Segundo ele, a espiritualidade africana é vista, no Brasil, como demoníaca, por isso as religiões de matrizes africanas sofrem violências.
Para o professor, não é possível combater o racismo sem enfrentar a questão da religiosidade. Segundo ele, no passado foi importante o sincretismo religioso, mas atualmente é preciso entender a religiosidade de matriz africana a partir de seus próprios conceitos, que estão muito associados à natureza.

Na sexta-feira de manhã, ocorrerá a mesa de diálogos Educação e antirracismos no horizonte da Lei 10.639/2003. À tarde, está prevista uma nova roda de conversa e, à noite, a conferência Relações raciais no espaço urbano no Brasil, com o professor Renato Emerson do Nascimento Santos, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Sábado, último dia do encontro, será realizada a mesa de diálogos Epistemes negrxs: identidades, deslocamentos e saberes e a roda de conversa Quilombos, identidades negras e resistências, pela manhã. À tarde, uma nova roda de conversa ocorrerá, dessa vez com a cantora baiana Margareth Menezes.



O professor Alex Ratts, da Universidade Federal de Goiás, fez a conferência de abertura do 2º Encontro de Culturas Negras do IFG, ontem à noite, abordando o tema da afro-perspectiva e educação no Brasil. Ele historiou a luta dos negros pela inclusão social e os avanços ocorridos nas últimas décadas. Ratts foi enfático ao afirmar que o Brasil é diverso, com uma população formada por europeus, asiáticos, africanos e índios, mas que metade da população é negra.

Segundo ele, desde 1929, quando ocorreu o congresso da mocidade negra, já se falava que o Brasil precisava de cuidar da educação dos jovens negros. “Isso significa que estamos atrasados? Não. Mas antes de nós, alguém já tinha essa batalha”, comentou.

Os avanços, disse Ratts, começaram a surgir a partir da década de 1970, com o reconhecimento das identidades e culturas negras e da existência do racismo e com o crescimento do movimento negro. Mas algumas garantias legais só vieram com a chegada do século 21. Ele citou a Lei 10.639, de 2003, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para tornar obrigatório o ensino sobre história e cultura afro-brasileiras e sobre a história da África e dos africanos, sobre a luta dos negros no Brasil e a cultura negra, no ensino fundamental e médio.


Cotas
Citou também a Lei 12.711/2012, que estabeleceu cotas para o ingresso nas instituições educacionais públicas, no ensino médio e superior. A lei fixa que 50% das vagas ofertadas devem ser destinadas a estudantes oriundos das escolas públicas e que, desta metade, 50% devem ser destinadas a alunos de baixa renda e os outros 50% a alunos negros, pardos ou indígenas.

Alex Ratts disse que o debate público sobre as cotas já se encerrou e que estamos na fase de implementação das cotas. “Ninguém precisa mais discutir com quem é contra a política de cotas; precisamos discutir como operacionalizá-la”, afirmou.
Ele falou ainda sobre as diferenças e o reconhecimento de identidades no Brasil. “Existem no Brasil marcadores da diferença, que são étnicos, raciais e sexuais, mas eu sou contra estes marcadores”, afirmou. Segundo ele, a diferença que realmente conta e para a qual devemos nos voltar é a política e social.


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